No ano passado, a minha filha chegou a casa a dizer que ia escrever uma carta ao Pai Natal. A pedido da professora, a carta deveria ser escrita e colocada no correio. Assim foi, com selo e tudo. Nenhum de nós sabia o que estava na carta.
Chegou o natal, e a minha filha começou a desesperar. O brinquedo que ela tinha pedido ao Pai Natal nunca mais chegava! Meses depois, chegou um brinde enviado pelos CTT, algo de tal forma desproporcionado ao que tinha sido pedido que a minha filha nem percebeu que era a resposta dos CTT ao seu pedido.
Foi nesta altura que finalmente percebi que toda esta história tinha sido uma campanha promocional dos CTT, que tinham comprado os dados demográficos das crianças em troca de um brinde miserável, usando a própria escola (ou a professora?) para chegar às crianças. Fiquei irritado por não ter percebido mais cedo este truque do Marketing dos CTT.
Mas afinal a história estava longe de ter acabado. Chegada a Páscoa, a minha filha anunciou solenemente que ia deixar de acreditar no Pai Natal, pois este ainda não lhe tinha entregue o presente que ela tinha pedido. A minha irritação com os CTT tornou-se numa irritação profunda. A que propósito é que uma empresa penetra assim nas relações de uma família, a ponto de destruir a ilusão no Pai Natal? E tudo para saberem que existe uma criança em dada morada?
Há dias chegaram os catálogos dos hipermercados, que a minha filha devorou avidamente. Escolheu uma prenda, mas declarou enigmaticamente que esta era a segunda escolha, já que não valia a pena pedir a outra prenda. Algumas perguntas depois, a história desenrolou-se: a prenda que não valia a pena pedir tinha sido a prenda pedida no ano anterior na carta aos CTT. A minha filha pensava que, se voltasse a pedir o mesmo, o Pai Natal voltaria a esquecer-se dela...
Lá irei comprar a prenda, a ver se mantenho a ilusão mais um pouco. Este ano será provavelmente o último.
Pelo meio, os CTT ficaram a saber que tenho uma criança em casa. Fiquem agora a saber que o pai da criança não lhes perdoará esta intromissão. Malditos CTT, a roubarem o sonho de Natal às crianças sem qualquer noção do que estão a fazer.