terça-feira, agosto 03, 2004

Colocação dos professores

Baseando-me na minha experiência pessoal enquanto pai, enviei uma carta ao Ministério da Educação no âmbito da discussão pública sobre a reforma da educação especial e do apoio sócio educativo.

Creio que a proposta teria resolvido a crise iminente na colocação dos professores, pelo que vou divulgá-la aqui.

Caso o leitor seja um dos professores afectados pela eterna incapacidade dos professores destacados para o ministério em colocar os colegas, sugiro que mostre a proposta abaixo ao seu (sempre presente) delegado sindical.

Proponho que os professores colocados numa escola tenham o direito de continuar na mesma escola no ano seguinte, independentemente de quaisquer concursos.

Razões:

  • Não há passagem de informação entre um professor e o professor seguinte. As fichas de aluno não chegam; contém um mero resumo, mas não informam o professor seguinte de todos as boas ideias que permitiram lidar com um aluno difícil no ano anterior.
  • O ponto anterior é particularmente sentido pelos alunos deficientes. É frequente haver um período de adaptação de alguns meses antes de a professora e o aluno deficiente se entenderem.
  • Ainda no caso particular dos alunos deficientes, em alguns casos consegue-se uma "química" especial entre professor e aluno que permite enormes progressos durante o ano. É no mínimo um desperdício destruir essa relação ao fim do ano e ter de recomeçar do zero no ano seguinte.
  • É frequente que o novo professor, mesmo que cheio de boa vontade, saiba pouco sobre o problema específico do aluno deficiente na sua turma, tipicamente porque nunca encontrou um caso semelhante. A mudança de professor, portanto, implica normalmente "informar e treinar" o professor, assim como lidar com a inevitável ansiedade quer do professor quer do aluno.
  • Esta alteração não implica nenhum custo acrescido ao Estado, mas promove a dedicação dos professores a uma escola onde se sintam suficientemente bem. Creio que terá um impacto positivo em todos os alunos, com efeitos acrescidos nos alunos deficientes ou com dificuldades.
  • Se o estado tiver razões para pensar que a estabilização excessiva do corpo docente é prejudicial, então que encoraje todos os professores a rodar entre escolas a cada 4 anos, por exemplo. Em alternativa, que aplique a medida apenas a professores de turmas com crianças deficientes.

quarta-feira, junho 16, 2004

Sem respeito pelos condutores

Hoje, a PSP de Lisboa cometeu a espantosa proeza de fechar a 2ª circular sem a fechar: anunciou que se reservava o direito de a fechar se fosse preciso. Só um perfeito aventureiro se atreveria a tentar atravessar a 2ª circular nestas condições, sabendo-se que muitas ruas na imediação do estádio da Luz estão fechadas, tornando impossível encontrar alternativas caso a PSP decidisse fechar mesmo a 2ª circular.

Para não ficar atrás, a Brisa achou por bem fazer obras na CREL, deixando apenas uma faixa aberta no túnel de Montejunto. O resultado óbvio foi uma bicha de vários quilómetros. Claro, nem pensar em avisar os automobilistas antes da saída anterior, não fossem eles decidir evitar a bicha e deixar uns trocos a menos nos cofres da Brisa.

Estas duas situações apenas refletem a absoluta falta de respeito pelos condutores das entidades que deveriam garantir a circulação automóvel.

sábado, abril 24, 2004

Bendito "r"

25 de Abril - Revolução segue dentro de momentos
-- in "A revolução interior: À procura do 25 de Abril", ISBN 972-36-0532-5, 2000.

Ao tentar remover o "r" de revolução do 25 de Abril, o governo terá talvez despoletado os mais benéficos efeitos para o país. Subitamente:

  • Os genuínos revolucionários de 1974 discutem as suas revoluções falhadas.
  • Outros discutem não só o 25 de Abril mas todas as modificações, desde as causas da revolução e as intentonas falhadas até ao Verão Quente e à consolidação da democracia.
  • A RTP apresenta cerca de 19 horas de programação sobre o 25 de Abril durante os dias e madrugadas de 24 e 25.
  • A escola primária dos meus filhos faz uma exposição acompanhada de trabalhos que envolvem os pais.
  • A minha filha de 7 anos pede-me para ver o 25 de Abril na televisão para ter ideias para o trabalho colectivo a realizar na Segunda-feira.

Bendito "r" que devolveu a revolução a este país!

terça-feira, março 09, 2004

Mais Valia nº 1

Acompanhava o meu colega na passada Sexta quando ele tentou comprar o nº 1 da revista "Mais Valia". Depois de a descobrir entre as dezenas de revistas expostas, pegou nela, folheou-a, e desistiu de a comprar, dizendo "Vê como é fina! Esperava mais."

Esta frase é sintomática. A uma nova revista não basta um ou dois artigos bons; é preciso ter volume suficiente para justificar ao leitor o custo, prometendo-lhe tempo suficiente de leitura.

Mas tenho de reconhecer que a publicidade foi feita da melhor forma: não há melhor forma de me propor a leitura regular de uma revista que oferecerem-me um exemplar, mesmo que a apreciação final seja negativa.

quinta-feira, março 04, 2004

Mais Valia Nº 0 de 27 de Fevereiro de 2004

Emprestada por um amigo, chegou às minhas mãos o número 0 da nova revista económica Mais Valia. Como incluía um texto do João César das Neves, o meu interesse foi imediato.

A revista começa com um editorial de Camilo Lourenço que enuncia a linha editorial da nova revista, realçando em particular que "Quem não tiver custos baixos e qualidade desaparecerá. O mercado não perdoa".

Nada posso afirmar quanto aos custos baixos, mas houve alguns aspectos da qualidade que me surpreenderam pela negativa. Passo a enumerar.

O sumário e os pequenos artigos iniciais estão nas páginas pares, enquanto a publicidade ocupa as correspondentes páginas ímpares. Isto para mim é um insulto ao leitor, afirmando que a exposição do leitor à publicidade é mais importante que a facilidade de o leitor encontrar o próprio conteúdo da revista. Haja respeito pela facilidade de navegação do leitor na revista.

A página 8 inclui um anúncio da Microsoft com uma comparação directa entre os servidores Windows e Linux, sendo que o estudo foi encomendado pela Microsoft. Noutros países onde esta publicidade foi feita, este tipo de estudos encomendados criou celeuma pela sua falta de objectividade. Pior, creio que em Portugal são proibidos anúncios com comparações directas entre empresas. Ou seja, a Microsoft poderia dizer "Os nossos servidores são os melhores" mas não poderia dizer "Os nossos servidores são melhores que os da marca X". Não sei se alguém se levantará para defender o Linux nos tribunais, mas este anúncio está certamente no limite do que é legal e ético em Portugal. É um péssimo sinal que a Mais Valia tenha aceite este anúncio.

As páginas 20 a 24 contém o artigo de opinião do João César das Neves. Uma das coisas que notei ainda antes de ler o artigo foram os três gráficos sobre o défice do orçamento, o destino das exportações e a evolução do produto per capita. Esperava, portanto, um artigo particularmente bom e alicerçado nos ditos gráficos. Que desilusão! O artigo não faz qualquer referência directa aos gráficos, que parecem ter sido incluídos apenas para efeitos decorativos. E, nas páginas 21 e 24, dois erros ortográficos: "competividade" e "longíqua"! Os gráficos mentem, ao criar uma expectativa que o artigo não cumpre. E os erros ortográficos são inaceitáveis em qualquer publicação que passe por um computador.

Li o resto da revista com menos atenção, pelo que me vou abster de comentários precisos. No entanto, fui várias vezes surpreendido por comentários num tom coloquial que parece mais apropriado às revistas cor-de-rosa cujo jornalismo o editorial afirma rejeitar.

Em jeito de conclusão, acho que os artigos maiores têm interesse e justificam o número 0 a revista. Infelizmente, a falta de respeito pelo leitor contraria os princípios do editorial. O mercado, obviamente, decidirá. Pela minha parte, após saber que não posso confiar no bom aspecto dos artigos, dificilmente pagarei os €2,5 pedidos.

segunda-feira, março 01, 2004

Lisboa merece melhor

O Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa está extremamente preocupado... com a sua candidatura a Presidente da República! Faria bem melhor em cuidar daquilo para que foi eleito, quiçá criando as condições para melhorar a cidade em vez de a poluir com inúteis cartazes.

Lisboa merecia que os seus eleitos cuidassem um pouco mais dela.

sábado, fevereiro 28, 2004

Um Professor?

Ando eu para aqui a dizer mal de tudo, quando tropeço numa pequena notícia do António Granado no Público, que por sua vez anuncia o trabalho de Luís Palma de Jesus, professor de Geografia na Escola EB 2, 3 de Santa Clara, em Évora.

O dito professor cometeu a pequena proeza de pôr 71 alunos a criar e escrever em blogs.

Calem-se as vozes que se queixam das limitações dos alunos: não são certamente alunos incultos os que abraçam a tarefa de escrever regularmente o que lhes vai na alma. Houvesse antes mais professores de Português com a mentalidade deste professor de Geografia, e certamente as miseráveis classificações de Português deixariam de ser miseráveis.

Um professor pode fazer a diferença: parabéns, Professor Luís Palma de Jesus!

terça-feira, fevereiro 17, 2004

Metro no Terreiro do Paço

A história do metropolitano no Terreiro do Paço tem todos os indícios de ser um erro colossal que ninguém quer assumir.

Em 2005 ou 2006, a nova estação de metro do Terreiro do Paço será inaugurada de forma luxuosa, juntando numerosos políticos e inúmeras figuras do Jet Set na viagem inaugural.

Depois, à boa maneira portuguesa, descobrir-se-ão "pequenos problemas" que, por uma questão de mera precaução, obrigarão a encerrar temporariamente a estação. Dois meses depois, descobrir-se-ão problemas mais graves que obrigam a "pequenas obras", prevendo-se a abertura da estação ao público em meados de 2009.

Com alguma sorte, o rio Tejo reclamará o que é seu fazendo menos vítimas que o rio Douro em Entre-os-Rios.

domingo, fevereiro 15, 2004

A Torre de Vidro

Após alguns milhares de anos, parece que Lisboa não pode continuar a ser uma boa capital do País sem exibir uma ou várias torres de 100 metros na margem do rio. Será que a cidade não tem mais nada para mostrar? Ou será que o objectivo é os lisboetas levantarem os olhos para a torre, embasbacados, ignorando assim as horrorosas porcarias, velhas e novas, que se vêm ao nível do chão?